A evolução do BIM no Brasil
O setor da construção e arquitetura passou por uma revolução nos anos 80, após a introdução de softwares de Desenho Auxiliado pelo Computador ou “Computer Aided Design”, mais conhecidos pela abreviatura CAD. Mas desde então, um novo brinquedo apareceu na área: o Building Information Modeling (BIM), que pode ser traduzido tanto como Modelo de Informação da Construção quanto Modelagem de Informação da Construção, termo introduzido por volta de 2003.
Foi somente em 2008, contudo, em um evento chamado BIMStorm, realizado em Los Angeles (EUA), batizado de o “Woodstock da Engenharia”, que começou em todo o mundo a difusão da tecnologia BIM, a qual permite a construção virtual de edifícios em terceira dimensão, antes que eles sejam erguidos no plano real.
A diferença básica entre CAD e BIM é que, no BIM, o mais importante não são desenhos, e sim informações, pois este novo tipo de software, além de ser um software de design, também processa um conjunto de informações geradas e mantidas durante todo o ciclo de vida de uma construção. Em suma, o BIM traz um processo de desenvolvimento e utilização de um modelo gerado por computador, que simula o planejamento, o projeto, a construção e a operação de uma obra.
Como é capaz de detectar antecipadamente as incompatibilidades construtivas de um projeto, recentemente, tem acontecido um novo impulso à implementação do BIM na construção civil brasileira, decorrente da crescente demanda do mercado em termos de cumprimento de prazos e orçamentos, que requer um estudo de viabilidade econômica, um orçamento detalhado e um rigoroso acompanhamento físico-financeiro da obra.
A decisão estratégica de implementar a tecnologia BIM é um grande passo e exige tempo e dedicação para que o seu planejamento e execução sejam feitos de maneira adequada, e para que todos os elementos necessários para a implantação do BIM estejam presentes.
O sistema BIM depende da interoperabilidade, já que a informação contida no modelo do edifício deve fluir entre os vários agentes, e durante as diversas fases do empreendimento, essa informação é importada e exportada pelos vários aplicativos que participam em diferentes etapas do ciclo de vida da edificação, através de um sistema em que tudo é calculado, abrangendo geometria, dimensões espaciais, propriedades dos componentes da construção (inclusive materiais, marcas, modelos ou fabricantes), custos e tudo o mais que possa ser utilizado em um projeto de construção e arquitetura.
BIM E O PANORAMA NACIONAL
Como aconteceu nos Estados Unidos e Europa, a aplicação do sistema BIM se inicia nos projetos de arquitetura, e depois se difunde para as outras disciplinas, e é preciso planejar esta transição nos diferentes níveis como em empresas de projetos, construtoras, Governo, e fornecedores, e isso não está acontecendo ainda, no Brasil. Entretanto, de acordo com o Sinduscon do Rio de Janeiro, apesar de não termos ainda condições de aplicação plena de todo o conceito BIM no país, já é possível usufruir de algumas de suas vantagens.
Em setembro deste ano, um evento realizado em São Paulo, intitulado “Caminhos para a inovação na construção e implantação do BIM”, chegou à conclusão de que o BIM “será inevitavelmente a ferramenta do futuro para se conceber e construir, onde todos acessarão, de forma integrada e colaborativa, todas as informações de qualquer lugar a qualquer hora”. A organização do evento, concluiu seus debates citando Caminhos recomendados para as empresas quanto à implantação do BIM. Foi sugerido às empresas nacionais, primeiro “conhecer em maiores detalhes a metodologia BIM, assim como seus aplicativos; em segundo, definir um objetivo a ser alcançado de acordo com o seu negócio (incorporação, projeto, construção, fabricação, gerenciamento, consultoria, etc.); em terceiro lugar, iniciar a aplicação com casos práticos, visando se familiarizar com esta nova cultura; e, finalmente, promover a ampliação do escopo de aplicação do BIM de forma consistente e sustentada.”
O governo brasileiro está tentando aumentar a velocidade deste processo. O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) pretende exigir, em seus editais de licitação, que os projetos sejam entregues em uma plataforma bidimensional e, futuramente, tridimensional. A intenção era que isso ocorresse já nos leilões das rodovias federais 040 e 116, que estavam marcados para o final de janeiro de 2013, mas a ideia foi adiada, pois as empresas interessadas pediram sua prorrogação, a fim de se adaptar às novas exigências, e obter linha de crédito através do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), com o objetivo de adequarem suas equipes ao BIM. Atualmente, dentro da esfera federal, apenas a Petrobras já requisita projetos na plataforma BIM.
Até que as empresas brasileiras tomem os caminhos citados pelo evento ocorrido em São Paulo, adotando novas tecnologias em seus processos, e rápido, a indústria da construção civil vai continuar sendo, \"a mais atrasada em tecnologia, e vai perder mercado doméstico para engenheiros estrangeiros\", como afirmou o Vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, Luiz Augusto Contier, em evento da Fiesp, em agosto.
A evolução do BIM no Brasil parece desta forma, andar a passos unidimensionais.
Autora: Simone Talarico
Artigo publicado originalmente no site http://www.businessreviewbrasil.com.br/