As habilidades essenciais de um time dinâmico e inovador
Uma empresa nacional de grande porte revisou o seu posicionamento, pois o seu principal mercado estava prestes a privatizar e a bolha de investimentos iria secar. Neste estudo, identificou uma janela de oportunidade muito interessante, mas que implicaria em adotar novos modelos de operação, vendas e de posicionamento. Era um empreendedorismo partindo de dentro de uma grande empresa. Para tal, foi entendido que devia separar-se do negócio principal (spin off) para poder ganhar vida e a agilidade necessária. Contudo, que talento colocar no comando? Os executivos internos eram muito “quadradinhos” para impor o dinamismo necessário.
Depois de muitas entrevistas identificaram um profissional promissor para a posição. Porém, as dúvidas apenas aumentaram, pois ele tinha o perfil altamente rebelde e determinado. Dificilmente seguiria diretrizes pré-concebidas, pois este perfil tende a seguir seus próprios instintos. Ao final de um bom período ele foi contratado, não sem receios de que poderia destruir o negócio que demandaria investimentos de várias dezenas de milhões de reais. A implantação seguiu em frente, com muitos conflitos e debates entre os executivos e demais times, pois a nova liderança estabeleceu uma dinâmica altamente agressiva, puxando todo o time para além das suas fronteiras. Aqui eu quero enfatizar que não se restringe a tirar as pessoas da zona de conforto, mas algo bem mais enfático. A aposta deu certo.
Os resultados foram impressionantes, pois a implantação, mesmo começando bem defasada em relação à concorrência a ultrapassou, obtendo mais de 400 clientes, alguns estratégicos, antes mesmo de iniciar a operação. E os resultados não pararam por aí. Fazia parte a venda da operação, mas esta ocorreu antes mesmo de completar seu primeiro aniversário, possibilitando aos acionistas capturar valor bem acima da expectativa inicial.
Como visto na nossa história, em muitos casos um grande desafio está em trazer alguém que irá desafiar constantemente as premissas do empreendedor, mas que pode ser exatamente o fator de transformação para um negócio disruptivo.
Nos dias de hoje observamos o crescimento de novas tecnologias, do papel do regulador, da atuação do governo, do maior poder do consumidor e naturalmente da ação da concorrência. Além disto, as barreiras de entrada vem caindo sistematicamente, devido à adoção em larga escala de plataformas digitais. Para este contexto de grande complexidade, um empreendimento, seja ele grande ou pequeno, deve considerar na estruturação de seu time habilidades técnicas e habilidades comportamentais. Estas últimas são as mais difíceis de avaliar. Seguem algumas destas habilidades que devem estar presentes em cada membro de seu time:
1 - Facilidade de trabalho em time e espírito colaborativo: A adaptabilidade dos times é exigida constantemente, o que envolve a montagem imediata de equipes que nunca atuaram juntas. A velocidade com que o time engata colaborativamente num novo projeto é fundamental. Numa universidade americana, como parte da semana de integração, os calouros do MBA e demais cursos foram colocados juntos para montar a casa de uma família pobre. Éramos de muitos países e formações distintas, homens e mulheres, diversas raças, etc. Montamos em tempo recorde e nos sentimos eficientes como no programa Extreme Makeover Home Edition. Contrate pessoas que já trabalharam em equipes diferentes antes, privilegiando a diversidade e a facilidade com que compartilham experiências e conhecimento.
2 - Qualidade de comunicação: Saber se expressar muito bem, especialmente em publico, é um dos grandes diferenciais dos empreendedores norte-americanos, sendo treinados desde a infância. A comunicação de qualidade está na coesão e objetividade, bem com no correto entendimento do publico alvo a ser atingido. Além disto, trabalhar em equipe exige fluência na interlocução entre as partes interessadas.
3 - Auto-liderança: Para obter maior agilidade, melhor adaptabilidade e menor tempo de respostas nas tomadas de decisão, o espírito de liderança precisa estar no DNA do time, que tenderá mais a pedir desculpas por um insucesso e irá corrigi-lo, do que solicitará autorização para as suas ações do dia a dia. Assim, busque montar uma equipe coesa, onde todos já tiveram experiências em coordenação.
4 - Solucionador de problemas: Solucionar problemas significa assumir riscos e trazer para si as responsabilidades. Assim, ao contratar busque identificar o grau de resiliência quanto aos erros cometidos e críticas recebidas. E, fundamentalmente, o que apreendeu de cada uma dessas oportunidades.
5 - Atitude: Não espere mais colaboradores que vistam a camisa da empresa, pois o mundo de hoje exige relações bidirecionais. Isto exigirá do gestor atitudes continuadas para promover desafios, feedback e reconhecimento o tempo todo. Pense no time como um ativo que precisa ser cuidado. Para a montagem do seu time, busque identificar elementos como Assertividade, Serenidade e Engajamento. Coloque no time pessoas que trazem os problemas para si e evite àquelas que vivem escorregando deles, como sabonetes.
Sua equipe deve demonstrar elevada competência e destacado grau de comprometimento. Seus membros são alinhados a valores comuns, seguem uma mesma visão e tem os mesmos objetivos. Junto com um alto grau de engajamento, deve trazer diversidade e multiplicidade de conhecimentos, habilidades, opiniões e ideias. Para inspirar, veja o filme “Os Estagiários” que apresenta um processo de seleção na Google. E lidere para além das fronteiras de cada um, inclusive as suas próprias.
Artigo escrito por: Werther Krause
Publicado originalmente em: http://www.endeavor.org.br